MANIFESTO DE MARIA AMÉLIA CANDIDA MEIRELLES PINHEIRO GOMES DE MEDEIROS
Dona de casa, 43.
Cansei. É isso mesmo. Eu aqui, sentada na frente do meu computador, cansei. Cansei dos pobres que me rodeiam, dos políticos corruptos, enfim, de toda essa bandalheira. Entretanto, o que é mais desgastante, é o caos nos aeroportos.
É lógico que os pobres não sabem o que é sofrer. Ficar de pé por horas a fio naquele calor, o pancake sendo levado por uma gota de suor que escorre por minha têmpora, isso sim é provação.
Esse monte de gente querendo viajar... farofeiros. Vão para onde? Para Disney? Ver a porra do Mickey? Já tem muito rato por aqui, na rua mesmo. Ah, e tem bastante pomba também. Quase morri na Praça da Sé, com aquele monte de rato alado voando sobre nós. Ainda bem que foi só um minuto de silêncio, porque já estava com pena dos meus novos Sarah Chofakian, andando no meio daquela gente toda, pisando em titica... não gosto nem de lembrar.
Eu também cansei de tanta miséria. Isso deve ser o pior. Tanta gente na rua...bando de desocupados, isso sim! Por isso tem tanto desemprego, ninguém procura trabalho! Só ficam ali, de papo para o ar, pedindo dinheiro.
Minha filha era assim também, desocupada. Passava o dia todo na piscina. Um dia não aguentei. Chamei-a e disse "Minha filha, ou você se casa logo com o João Pedro de Alcântara e Albuquerque Lins Dias de Almeida Torres Diniz de Moraes, ou vai trabalhar na Daslu."
Ela esperneou, mas preferiu ir trabalhar. Essas meninas de hoje querem mais independência. Se eu tivesse a opção, faria como fiz, casava de uma vez, sabe? Faria para ela uma cerimônia linda, com o Padre Antonio Maria, ali na Igreja S. Pedro, ou naquela capelinha charmosíssima em Trancoso...mas enfim.
Cansei de escrever. Vou descansar agora, pois hoje tenho uma festa beneficente que o Joãozinho está promovendo. É para ajudar os garotinhos da favela de... qual era o nome? Ai, não importa né? Tem tanta favela mesmo.
